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sábado, 24 de março de 2012

NÁUTICO - NEM TUDO SÃO FLORES

Volante do Náutico prova que mundo do futebol não é apenas ostentação
 

Para chegar aos treinos, Auremir encara todos os dias uma dura rotina que começa às 6h30m e passa por ônibus lotados e muita caminhada


Fama, dinheiro, carros importados e glamour. No imaginário popular a vida dos jogadores de futebol é feita de riqueza e ostentação. No entanto, na prática, a situação não é bem essa. Em um país onde o esporte é tido como válvula de escape para a desigualdade social, são poucos os atletas que conseguem atingir um padrão de vida elevado. A grande maioria tem uma rotina igual a de qualquer trabalhador brasileiro. Acordar cedo, encarar o trânsito pesado num transporte coletivo deficiente.

Um bom exemplo disso é o volante do Náutico Auremir. Morador de Paulista, Região Metropolitana do Recife, o jovem atleta, que é tido como uma das principais esperanças do elenco alvirrubro, enfrenta uma enorme maratona para ir aos treinamentos do clube, sejam eles realizados nos Aflitos ou no Centro de Treinamento do Timbu.
Auremir, volante do Náutico (Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)O desafio de Auremir começa vencendo duas ladeiras (Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)
O bom preparo físico do jogador pode ser explicado pelo trajeto que faz até o clube. Ao sair de sua residência, o volante enfrenta duas ladeiras enormes para poder chegar ao ponto de ônibus. Quando adentra na condução, que invariavelmente está lotada, Auremir se mistura a tantos outros trabalhadores que buscam seus sonhos a cada dia. Mas como o coletivo não passa próximo ao estádio do Náutico, o jogador ainda caminha mais 15 minutos até chegar ao trabalho.

O esforço diário poderia fazer da vida do atleta uma história de lamentação. Mas a palavra definitivamente não se enquadra a personalidade do jogador. Sempre tranquilo, Auremir encara com naturalidade o sacrifício que faz para vencer no mundo do futebol.
Auremir, volante do Náutico (Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)Ônibus até o treino é sempre lotado
(Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)
- Todo dia saio de casa às 6h30m para poder pegar o ônibus e ir para o treino. Aí, desço na avenida e ando mais alguns minutos. Mas essa é a vida da maioria dos jogadores. São poucos os que podem andar com carrão, a maior parte anda de ônibus e luta bastante, como todo mundo.

Disciplinado, Auremir sempre é um dos primeiros a chegar ao clube. É lá onde toma café da manhã e se prepara para mais um dia de trabalho. E, mesmo após tantos percalços, o volante se mostra disposto nas atividades. Situação que para ele já é algo comum.

- Saio de casa cedo para chegar cedo, pois nunca sei o que ocorrerá no caminho e não posso me atrasar. Mesmo assim o ônibus está sempre cheio. Aí, tomo café no clube e vou para o treino. Como meu corpo está acostumado, eu nem me sinto cansado e, na volta até subo as ladeiras correndo, quando estou disposto.
Morte do pai por pouco não afasta Auremir do Futebol
Quem observa a felicidade de Auremir em vivenciar o futebol, não imagina que o volante chegou a abandonar o futebol. Decisão tomada após sofrer com a morte do seu pai, vítima de AVC. Mas a tristeza não conseguiu afastar o jogador dos gramados por muito tempo. Do pai, que completaria aniversário no próximo domingo, dia em que o volante poderá iniciar seu primeiro clássico como profissional, e da tragédia, restaram alguns ensinamentos, que o atleta carrega até hoje.

- Meu pai me apoiava e sempre me ensinava bastante. Quando ele morreu, eu cheguei a abandonar. Mas o Paulo Júnior, que na época treinava a seleção de Paulista, me chamou para ir lá sem compromisso. E quando eu cheguei, o sonho de jogar bola voltou. Mas nos dias em que eu acompanhei meu pai no Hospital da Restauração, mais precisamente os 52 dias eu estive com ele, tive a oportunidade de conversar com várias pessoas e ouvir muitas histórias. Lá eu percebi que ninguém é melhor do que ninguém. Somos todos iguais e isso eu carrego comigo até hoje.
Ainda “engatinhando” na profissão, Auremir passa despercebido pela maioria das pessoas que cruza em seu trajeto. Situação que está longe de incomodar o jogador. Tímido, o volante faz questão de desviar o olhar quando percebe que alguém lhe reconheceu e se mostra com vergonha a cada cumprimento que recebe dos vizinhos.

- Nasci e me criei no mesmo bairro e todo mundo sabe que eu jogo. Nas ruas ainda é difícil ser notado. Um dia, um cara tocou em mim e perguntou se eu jogava no Náutico. Às vezes, também as pessoas me olham no ônibus, mas eu tiro logo a vista porque sou muito tímido.
Assim como todo profissional, o volante do Náutico também almeja conquistar sucesso em sua carreira. Mas, por enquanto, uma transferência milionária para o futebol europeu não faz parte dos objetivos de Auremir. Centrado, o jogador garante que pretende se firmar no clube e conquistar o reconhecimento da torcida.

- A gente sempre sonha em evoluir, mas penso primeiro em me firmar e ser reconhecido, para depois pensar em algo maior. Procuro não fazer muita previsão. Vou trabalhando e tentando aproveitar as oportunidades, pois, certamente, algo bom me espera.
Auremir, volante do Náutico (Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)Depois do ônibus lotado, uma longa caminhada até o Náutico (Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)
Auremir não sonha com carros, mas sim com casa para família
Entre suas metas não estão a aquisição de carros luxuosos ou mansões. Nem mesmo a compra de um veículo, para poder abandonar o transporte público está elencada como prioridade. Para Auremir, o primeiro projeto é a melhoria da casa onde mora com a mãe e uma irmã.

- Claro que eu penso em comprar um carro que me dê mais comodidade e segurança para ir trabalhar. Mas primeiramente eu quero finalizar uma obra na casa da minha mãe, para depois pensar nisso. Mas não vou querer carrão. Vou com meus pés no chão e começando de baixo.
Auremir, volante do Náutico (Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)Auremir não sonha com carros, mas com casa para
a família (Foto: Elton de Castro / GloboEsporte.com)
Para Auremir, o mundo futebolístico pode ser muito traiçoeiro, onde um dia de ganha muito dinheiro, para o dia seguinte não ter nada. Mesmo aos 20 anos, o volante do Náutico deu uma aula de maturidade ao falar sobre a carreira.

- Futebol é um esporte que envolve muito dinheiro se não tiver cuidado a pessoa pode ficar deslumbrado. Mas minha mãe me ensina bastante, e eu também procurei ser bem responsável. A vida que me ensinou a ter os pés no chão. A carreira é muito curta, e temos que ser inteligentes para não sofrer.

Para conquistar sucesso como jogador profissional, Auremir pretende se espelhar em um companheiro de posição de já foi campeão mundial. Para o jovem atleta, o estilo de jogo do volante Kléberson é uma inspiração.

- Gosto muito do jeito que o Kleberson joga, e algumas pessoas dizem que tenho o mesmo estilo. Mas se eu conseguir fazer uma parte do que ele fez, já será bom.
FONTE - GLOBOESPORTE.COM

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