A mala branca voou, voou...
Ninguém a vê, mas todos sabem que entra em campo, sobretudo nos momentos de decisão. Quem paga nega com veemência. Nem sempre, porém, quem recebe mantém o sigilo 2013 caso do América no último domingo
Estado de Minas
Cabeça de bacalhau, enterro de anão, foto de sogra na carteira e mala branca ou preta no futebol: todo mundo sabe que existe, mas ninguém nunca viu. Seja folclore, mito ou realidade, as malas multicoloridas passaram a fazer parte do cotidiano do futebol e das acaloradas rodas de discussão dos torcedores, que encontraram nas supostas benesses uma explicação para casos que vão além do Sobrenatural de Almeida, personagem de Nelson Rodrigues responsável por gols improváveis e desastrosos, capazes de alterar o rumo da história do esporte. Como explicar, por exemplo, a goleada da Argentina sobre o Peru por 6 a 0, que eliminou os brasileiros e classificou os anfitriões à final da Copa de 1978?
Para os mais céticos, o triunfo do rebaixado América por 2 a 1 em cima do Atlético-PR, que briga com o Cruzeiro para permanecer na Série A do Brasileiro, foi motivado por uma ajudinha celeste. Tal suspeita foi endossada pela revelação do lateral-esquerdo Carleto, que afirmou, com todas as letras, ter recebido o incentivo. “Quando é favorável, quando é para você ganhar é válido. Que nem hoje (domingo). Se nós ganhássemos, nós teríamos uma ajuda do Cruzeiro. O Cruzeiro procurou alguns jogadores e a diretoria também deu um respaldo, falou que era coisa dos jogadores”, afirmou depois da vitória, em entrevista ao canal Premiére do Sportv. Procurado ontem, o clube não quis comentar a declaração de Carleto. Mas companheiros mais experientes tentaram disfarçar: “Desconheço. Se ele ganhou, vou pedir para dividir comigo. Afinal de contas, somos companheiros de quarto na concentração”, disse o atacante Kempes.
A informação também foi desmentida em seguida pelo presidente celeste, Zezé Perrella. “Não é verdade. Esse cara (Carleto) é maluco. Se alguém ofereceu, não foi em nome do Cruzeiro. Mas nós sabemos que tem doido para tudo no futebol e vai ver alguém ofereceu o dinheiro para eles”, afirmou o dirigente.
Fontes ligadas aos dois clubes informam que no início da semana o Cruzeiro ofereceu R$ 400 mil aos jogadores americanos que atuariam na partida em caso de vitória sobre o Atlético-PR. Uma vez que no Coelho as gratificações são divididas por todo o grupo – incluindo o técnico Givanildo Oliveira e os atletas não escalados –, a proposta teve de ser reajustada, chegando a R$ 500 mil. A negociação foi feita diretamente com o grupo, intermediada por um jogador que já defendeu o rival e tem bom trânsito entre as agremiações.
Mala branca – quando um time paga o outro para vencer um rival direto – ou preta – para o adversário entregar o jogo – são proibidas pelo Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003). Segundo o artigo 41, “solicitar, aceitar, dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial a fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição é ilegal, com pena de dois a seis anos de reclusão ou multa”.
O técnico celeste, Vágner Mancini, por exemplo, garante que nunca viu nem ouviu e só ouve falar das malas. “Não vou falar sobre isso. Há dois anos falei sobre isso e fui chamado para depor. Tenho dito que o mais importante é não associar nada a dinheiro”, afirmou antes do empate por 2 a 2 com o Ceará. No ano passado, quando o Cruzeiro disputava o título na última rodada com Fluminense e Corinthians, o goleiro Fábio comentou que a prática era comum. “Existir, com certeza existe. Não adianta vir aqui e falar o que os outros querem ouvir, que não existe, que não tem contato. A gente tem de ser verdadeiro em todos os momentos de nossa vida.”
TEORIAS Foi-se o tempo em que as ajudas extracampo, para vencer ou ver o rival cair em desgraça, se limitavam a mandingas, banhos de sal grosso ou enterrar um sapo no gramado do campo adversário. Na Série B, Bragantino e Vitória teriam oferecido dinheiro para que o Vila Nova-GO ganhasse do Sport sábado. Mesmo com a suposta ajuda, os goianos não conseguiram impedir o time pernambucano, que venceu por 1 a 0, de subir à Série A.
Na última rodada do Brasileiro, domingo, às 17h, o Cruzeiro terá verdadeira cruzada contra as teorias conspiratórias para evitar o primeiro descenso de sua história. Uma mensagem postada sábado no site oficial do Bahia, torcendo pela permanência do Ceará na Série A, em nome do fortalecimento do futebol nordestino, suscitou dúvidas nos torcedores celestes. As mágoas também podem motivar uma ajudinha baiana aos cearenses: em 2003, a goleada celeste por 7 a 0 sobre o tricolor baiano, na Fonte Nova, com cinco gols de Alex, culminou no rebaixamento do anfitrião, que demorou sete anos a voltar à elite.
Mas o técnico do Bahia, Joel Santana, dispensado pelo Cruzeiro em setembro, não gostou das insinuações de que seu time poderia entregar o jogo para o Ceará, no Pituaçu: “Não tem essa. Vamos jogar pra valer!”, garante.
A maior dor de cabeça da Raposa será na Arena do Jacaré. O Atlético deve incrementar a gratificação a seus jogadores para mandarem o arquirrival para a Segunda Divisão. No caso, a mala é preta e branca.
O QUE DIZ A LEI
Estatuto do torcedor
Lei nº 10.671, de 15/5/2003
» “Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva: Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa”
» “Art. 41-D. Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva: Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa”
» “Art. 41-E. Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva. Pena: reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.”
Para os mais céticos, o triunfo do rebaixado América por 2 a 1 em cima do Atlético-PR, que briga com o Cruzeiro para permanecer na Série A do Brasileiro, foi motivado por uma ajudinha celeste. Tal suspeita foi endossada pela revelação do lateral-esquerdo Carleto, que afirmou, com todas as letras, ter recebido o incentivo. “Quando é favorável, quando é para você ganhar é válido. Que nem hoje (domingo). Se nós ganhássemos, nós teríamos uma ajuda do Cruzeiro. O Cruzeiro procurou alguns jogadores e a diretoria também deu um respaldo, falou que era coisa dos jogadores”, afirmou depois da vitória, em entrevista ao canal Premiére do Sportv. Procurado ontem, o clube não quis comentar a declaração de Carleto. Mas companheiros mais experientes tentaram disfarçar: “Desconheço. Se ele ganhou, vou pedir para dividir comigo. Afinal de contas, somos companheiros de quarto na concentração”, disse o atacante Kempes.
A informação também foi desmentida em seguida pelo presidente celeste, Zezé Perrella. “Não é verdade. Esse cara (Carleto) é maluco. Se alguém ofereceu, não foi em nome do Cruzeiro. Mas nós sabemos que tem doido para tudo no futebol e vai ver alguém ofereceu o dinheiro para eles”, afirmou o dirigente.
Fontes ligadas aos dois clubes informam que no início da semana o Cruzeiro ofereceu R$ 400 mil aos jogadores americanos que atuariam na partida em caso de vitória sobre o Atlético-PR. Uma vez que no Coelho as gratificações são divididas por todo o grupo – incluindo o técnico Givanildo Oliveira e os atletas não escalados –, a proposta teve de ser reajustada, chegando a R$ 500 mil. A negociação foi feita diretamente com o grupo, intermediada por um jogador que já defendeu o rival e tem bom trânsito entre as agremiações.
Mala branca – quando um time paga o outro para vencer um rival direto – ou preta – para o adversário entregar o jogo – são proibidas pelo Estatuto do Torcedor (Lei nº 10.671, de 15 de maio de 2003). Segundo o artigo 41, “solicitar, aceitar, dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial a fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição é ilegal, com pena de dois a seis anos de reclusão ou multa”.
O técnico celeste, Vágner Mancini, por exemplo, garante que nunca viu nem ouviu e só ouve falar das malas. “Não vou falar sobre isso. Há dois anos falei sobre isso e fui chamado para depor. Tenho dito que o mais importante é não associar nada a dinheiro”, afirmou antes do empate por 2 a 2 com o Ceará. No ano passado, quando o Cruzeiro disputava o título na última rodada com Fluminense e Corinthians, o goleiro Fábio comentou que a prática era comum. “Existir, com certeza existe. Não adianta vir aqui e falar o que os outros querem ouvir, que não existe, que não tem contato. A gente tem de ser verdadeiro em todos os momentos de nossa vida.”
TEORIAS Foi-se o tempo em que as ajudas extracampo, para vencer ou ver o rival cair em desgraça, se limitavam a mandingas, banhos de sal grosso ou enterrar um sapo no gramado do campo adversário. Na Série B, Bragantino e Vitória teriam oferecido dinheiro para que o Vila Nova-GO ganhasse do Sport sábado. Mesmo com a suposta ajuda, os goianos não conseguiram impedir o time pernambucano, que venceu por 1 a 0, de subir à Série A.
Na última rodada do Brasileiro, domingo, às 17h, o Cruzeiro terá verdadeira cruzada contra as teorias conspiratórias para evitar o primeiro descenso de sua história. Uma mensagem postada sábado no site oficial do Bahia, torcendo pela permanência do Ceará na Série A, em nome do fortalecimento do futebol nordestino, suscitou dúvidas nos torcedores celestes. As mágoas também podem motivar uma ajudinha baiana aos cearenses: em 2003, a goleada celeste por 7 a 0 sobre o tricolor baiano, na Fonte Nova, com cinco gols de Alex, culminou no rebaixamento do anfitrião, que demorou sete anos a voltar à elite.
Mas o técnico do Bahia, Joel Santana, dispensado pelo Cruzeiro em setembro, não gostou das insinuações de que seu time poderia entregar o jogo para o Ceará, no Pituaçu: “Não tem essa. Vamos jogar pra valer!”, garante.
A maior dor de cabeça da Raposa será na Arena do Jacaré. O Atlético deve incrementar a gratificação a seus jogadores para mandarem o arquirrival para a Segunda Divisão. No caso, a mala é preta e branca.
O QUE DIZ A LEI
Estatuto do torcedor
Lei nº 10.671, de 15/5/2003
» “Art. 41-C. Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva: Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa”
» “Art. 41-D. Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva: Pena – reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa”
» “Art. 41-E. Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva. Pena: reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.”
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